Crônica: Dançarinos Amadores
Primeira aula de dança dos dois.
Uma música começou a tocar. Tinham que fazer aqueles movimentos todos. Desajeitados e concentrados, faziam o que podiam e ocasionalmente se trombavam. Tanto que começaram a rir. E o sorriso dela era lindo. E os olhos dele também.
Vieram mais músicas. Gostavam cada vez mais daqueles movimentos e trombadas. As risadas eram agora conversas sobre as tarefas e músicas em comum, cada vez mais difíceis e animadas.
E de repente estavam abraçados, dançando uma música muito bonita e lenta, de passos vagarosos e curtos. Música bonita, nova, a favorita deles. Ela sentiu os olhos dele nos olhos dela, surpresa, e ele sentiu os lábios dela nos lábios dele, sorridentes. Como naquelas trombadas despretensiosas, que também foram se repetindo. Mais. E mais.
À medida que as músicas ficavam mais alegres e mais agitadas, os passos ficavam mais desafiadores. O mais difícil era aquele de soltá-la para o ar. Ela teria que rodopiar e voltar aos braços dele. Temiam demais aquele passo. Preferiam ficar ali, com os pés no chão e as mãos juntas. Mas o salto era preciso.
Começaram a treinar e as trombadas pareciam perder a graça. Ele temia o momento de soltá-la. Ela temia o momento de voltar aos braços dele. Um não queria fazer o outro cair. Ele precisava de força, ela precisava de leveza, ambos precisavam de coragem, confiança, dedicação. Aquele passo era decisivo para a carreira deles. E foi.
Cresceram. Não viraram dançarinos profissionais. Mas continuam conversando e rindo sobre as tarefas e músicas em comum. Bastam-se como bons amadores. E lembram com muita alegria daquele lindo momento em que ela saltou, rodopiou, e voltou aos braços dele. Uma graça!
Esse salto passou a embelezar ainda mais os passos vagarosos e curtos da música bonita, velha, a favorita deles.
Não cansam de dançá-la.
Originalmente publicado no blog Canto em Silêncio em 15 de maio de 2010.
Imagem de Gaëlle Boissonnard.